Cláudio Fonteles está aposentado do Ministério Público desde 2008. Religioso, dá aulas e atua como voluntário ajudando dependentes químicos, longe da vida "oficial" e agitada que tinha quando foi procurador-geral da República, entre 2003 e 2005. Por isso, admite a surpresa pelo convite da presidente Dilma Rousseff para integrar a Comissão da Verdade. O chamado foi oficializado na quinta-feira (10).
O ex-procurador atuou na luta política contra a ditadura militar, que vigorou entre 1964 e 1985, período a ser investigado pela comissão. À época, fez parte da Ação Popular, movimento político ligado à esquerda católica que atuou no combate ao regime. "É um momento muito bonito. Eu me arrepio, porque eu estou com 65 anos de idade. Isso me faz voltar aos 18 anos de idade, ao grupo de jovens de que participei", contou ele ao G1.
"O que nos impeliu foi o idealismo, que hoje sumiu do nosso vocabulário. As pessoas têm que ter uma coisa por que viver, e o que nós queríamos era uma sociedade mais justa, sem miséria", relata. Fonteles deixou o movimento quando parte dos integrantes optou pela luta armada contra a ditadura. "O que a gente entendia é que as transformações sociais devem ser feitas pela conscientização. A gente tem que dialogar com as pessoas, abrir esse espaço para a reflexão", diz.
A exemplo de outros integrantes, o ex-procurador fez elogios à presidente Dilma Rousseff, que jantou na noite de quinta com os sete convidados a compor a comissão. Também participaram do encontro ministros ligados ao tema.Por isso, para ele, este deve ser um dos focos da atuação da comissão. "Nenhuma solução arbitrária é solução. A solução passa necessariamente por um diálogo, por sentar na mesa para um debate, para chegar a um consenso", defende ele. "Ela fez uma síntese muito bonita, num diálogo franco. Ela disse: 'Isso aqui não é uma atividade de governo, é uma atitude de Estado. O que a Presidência tem que fazer em relação aos senhores é simplesmente dar todos os meios para executar essa missão. Os senhores estão livres para levar esta missão como como acharem adequado'", conta ele.
Sobre as críticas de setores ligados aos militares sobre um possível revanchismo, Fonteles é categórico. "É uma bobagem enorme quem pensa em revanchismo. É uma reconstrução histórica, porque o Estado brasileiro, por uma lei, reconheceu que violou os direitos humanos em um período da sua história", argumenta. "Agora é um momento de complementação. Não tem nada de revanchismo, não tem nada de coisa direcionada, é todo um processo a partir de lei."
Relembrando os amigos perdidos na ditadura, Fonteles reflete sobre a missão da comissão. "O fundamental é tirar uma lição maior de tudo isso, que é nunca mais voltar a soluções arbitrárias com sacrifícios de vida. A solução nunca passa pelo sacrifício de direitos humanos" (Marcelo Parreira Do G1, Brasília)
Nenhum comentário:
Postar um comentário