Um hobby, uma necessidade, hábito ou detalhe da personalidade. Cada um descreve a conexão com o mundo literário de uma forma, mas a paixão é adjetivo quase universal entre os leitores inveterados. Do saboreio das páginas ao despertar da imaginação, há quem acredite que acaba-se criando um laço muito pessoal com algo que vai além de uma história emocionante, com o objeto em si: apaixonar-se pela brochura.
O limiar entre leitor e vendedor de livros - ou simplesmente “livreiro” - é inexistente para José Carlos de Lima (43). Professor de história por formação, Carlos é dono do sebo “Cultura Usada”, e diz que o hobby virou profissão quando ainda estava na faculdade. Desde então, segue dividindo os ofícios. “Em 92 eu resolvi reunir um acervo de livros meus para começar o sebo. Inicialmente eram 500 livros entre os que ganhei e que comprei. Foi a forma que encontrei de fazê-los circular”, relembra.
Foram muitos os endereços que o “Cultura Usada” já teve até o atual, na Assis de Vasconcelos. A loja reúne obras consagradas como Machado de Assis, Jorge Amado e até Shakespeare, e outras tantas de áreas como geografia, filosofia, artes, etc. Segundo o proprietário, ao longo dos 19 anos à frente do sebo, já comercializou cerca de 150 mil livros. “Pode parecer pouco ou muito, não sei dizer. Para mim é um número que eu pretendo superar, pelo menos como leitor”, conta o professor, que se considera um bibliófilo. “Quero poder ficar bem velhinho e ter sempre um livro à mão”, revela José Carlos.
Para Carlos, não é só o gosto pela leitura que o torna um amante dos livros. Além dos assuntos preferidos como filosofia e história do Pará, ele descreve o sentimento que tem como uma espécie de ‘carinho’. “É algo especial, como se fosse uma mulher. Gosto das sensações táteis, das lombadas, do aspecto da capa e também do cheiro, que pode ser dos velhos ou dos novos, de acordo com o humor” conta o professor, entre risos.
A paixão é tanta que ele já bolou inclusive um projeto de incentivo à leitura na capital paraense. “Acho uma pena que aqui muitas pessoas ainda não tenham o hábito da leitura. Se eu pudesse implantava um sistema semelhante à farmácia popular, no qual obras de escritores paraenses como Ruy Barata, Vicente Salles e Bruno de Menezes fossem vendidas em grandes doses, para as massas conhecerem o que temos de bom”.
Entre uma prateleira e outra, brinca o caçula do livreiro, que leva o mesmo nome do pai. Aos sete anos, o filho de Carlos já é incentivado a apreciar a leitura. “Não escondo de ninguém que meu sonho é que um dia ele assuma isso aqui”, revela o pai coruja.
Apesar de ser avesso a tecnologias, José Lima afirma que para o próximo ano a meta é digitalizar o acervo da loja e disponibilizá-lo para download. “Apesar de não acreditar que os livros físicos vão se extinguir eu acho que as pessoas hoje estão condicionadas a querer encontrar tudo na internet. Assim eu perpetuo a minha ideia inicial de tornar os meus livros acessíveis”, pontua. (Diário do Pará)
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