segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O BODE NA SALA, POR MARCOS COIMBRA

Todo mundo conhece a história do bode na sala. Sua conclusão é que, às vezes, para resolver um problema, é preciso criar artificialmente outro maior. Como o da família que vivia apertada em uma casa minúscula. Ela foi se aconselhar com um sábio e ouviu a recomendação de colocar na sala um bode.

A vida tornou-se insuportável. Voltaram ao ancião, que mandou tirá-lo de lá. Ficaram tão contentes livrando-se do problemão que o anterior virou um probleminha. Pararam de lamentar o desconforto da casa acanhada e festejaram.

Uma parte das oposições brasileiras parece estar raciocinando dessa maneira em relação ao julgamento do “mensalão”. Não é que inventaram um bode, talvez imaginando que ganhariam alguma coisa retirando-o? É o que parece quando se vê a ânsia com que alguns colunistas e comentaristas se puseram a elucubrar sobre um fato até ontem inexistente.

O pretexto foram as declarações do advogado do ex-deputado Roberto Jefferson perante o Supremo Tribunal Federal ao defendê-lo. Como se não bastasse a histrionice de seu cliente - notável, entre outras coisas, por já haver apresentado meia dúzia de versões contraditórias sobre algo que batizou e depois assegurou que nunca existira - o personagem aproveitou seus minutos de visibilidade nacional para “denunciar” o ex-presidente Lula.

É evidente que Lula pode ser questionado, como qualquer cidadão, independentemente do cargo que ocupou. Tanto que já o tinha sido, nessa mesma Corte. Que havia avaliado a consistência do que fora alegado contra ele e deliberado que não justificava qualquer providência.

O disparate do gesto é evidente. O que o advogado fez foi apenas exibir sua ignorância a respeito das regras do julgamento de que participava - e com retórica medíocre. Pior, no entanto, foi perceber como algumas redações receberam seu rompante. (Blog do Noblat)

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