quarta-feira, 6 de junho de 2012

200 mil vivem com meio salário no Guamá e Terra Firme

O equivalente populacional a uma cidade europeia de porte médio vive tendo a fome como uma ameaça constante em dois bairros de Belém. No Guamá e na Terra Firme, cerca de 200 mil pessoas sobrevivem com uma renda média de meio salário mínimo por mês, segundo levantamento apontado pelo programa Pobreza e Meio Ambiente (Poema), organização ligada à Universidade Federal do Pará (UFPA).

“É um pesadelo para o povo que vive nesta situação e para a cidade como um todo”, avalia o coordenador do Poema, Thomas Mitschein. Um dos autores do livro “Crescimento, Pobreza e Violência em Belém”, que faz um recorte preciso entre a pobreza e os sinais de violência na cidade. Mitschein lamenta que uma iniciativa criada pelo Poema para tentar combater a fome nos dois bairros nunca tenha sido adotada nem por gestores municipais, nem por estaduais ou federais.

A ideia é relativamente simples. A adoção de cestas básicas regionalizadas a serem distribuídas aos moradores cadastrados nos dois bairros. Os alimentos das cestas seriam produzidos por comunidades ribeirinhas e tradicionais do Pará. A compra dos produtos seria feita ou por empresas privadas que comprassem a ideia ou pelo poder público em qualquer uma das três esferas. O resultado do projeto, três anos depois, ainda é nulo. Ninguém ‘comprou’ a ideia.

“Partindo do princípio de que a insegurança alimentar é um problema de segurança pública no Pará, o projeto sugere a construção de uma ponte de desenvolvimento entre campo e cidade, no sentido de aproveitar nas áreas urbanas a demanda por cestas básicas, por parte das populações socialmente vulneráveis e ao mesmo tempo consolidar cadeias produtivas no interior paraense, envolvendo comunidades rurais organizadas”, explica Mitschein. “Ajudaria as duas pontas da corda”, complementa.

De início, o projeto alcançaria 1.500 famílias dos dois bairros, cuja renda mensal não ultrapassasse o montante de R$ 72,00 por mês, ou seja, o público definido pelo Programa Fome Zero como em situação de vulnerabilidade social. “A insegurança alimentar é um problema grave no Brasil. Ela ocorre quando o direito ao acesso regular e permanente de alimentos com qualidade, em quantidade suficiente, é violado. Às vezes, a insegurança alimentar é gerada a partir do comprometimento da renda familiar em outros serviços, como a saúde”, diz o coordenador.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD 2004), 13,2% dos domicílios no Estado do Pará sofrem uma situação de insegurança alimentar grave. Este índice sobe para 54.3% se forem considerados, também, insegurança leve e moderada como indicadores de avaliação. No caso da zona rural do Pará, a insegurança alimentar alcança 66,1% dos domicílios. (DOL)

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