... Da mesma maneira, preocupa a relação similar com os segmentos da mecanização agrícola convencional que passou a ser disseminada com o programa ‘Mais Alimentos’, por meio do qual foi levado a cabo o que avaliamos como o último estágio da modernização da agricultura familiar...
Afora os desdobramentos na base técnica, os vínculos em questão passaram a aprofundar a dependência, a fatores exógenos, sob o controle oligopólico, da formação dos custos da produção camponesa. Tal fenômeno guarda proximidade com o processado com a modernização do latifúndio que levou à ruptura da dinâmica dos complexos rurais.
Em suma, o processo de modernização conservadora da agricultura familiar culmina com a ampla integração da economia camponesa aos circuitos dos capitais que controlam o agronegócio. Significa que, a exemplo dos ‘fazendeiros modernos’, mas sem as mesmas ‘defesas’, os camponeses passam a assumir condição objetiva de terceirizados desses capitais que operam à montante e à jusante da base primária da agricultura. Afinal, passaram a ter a estrutura de custos, os próprios custos e os preços determinados por esses capitais.
Tem-se, então, a incidência direta sobre os camponeses, da trajetória histórica de perda de rentabilidade da atividade primária do agronegócio não alterada mesmo no período recente de boom dos preços para algumas commodities, conforme temos demonstrado. (Ver a respeito, o artigo ‘O colapso do agronegócio e a agricultura do futuro’, publicado noJornal Valor Econômico, em 21/01/2008 e, em maiores detalhes, o estudo A Pesquisa Científica e os Desafios da Agricultura Brasileira, apresentado no X Congresso do Sinpaf- 28/04/2011).
Não é à toa a centralidade assumida pelo tema do endividamento agrícola na agenda de lutas das entidades dos trabalhadores rurais brasileiros. Isto, praticamente coincidindo com o início do processo de acesso massivo ao crédito por esses agricultores. Basicamente, sob o embalo das políticas inclusivas para a modernização, as pautas das entidades combinam demanda por mais recursos para o crédito e, concomitante, pedidos de remissões, reduções e prorrogações das dívidas correspondentes a créditos anteriores.
Dessa forma, até a agenda de demandas políticas da agricultura familiar passou a coincidir com a agenda clássica do agronegócio. Não por que os camponeses adquiriram a esperteza dos ruralistas que desde 1995 transformam as permanentes negociações de dívidas na ‘galinha dos ovos de ouro’ para setores do agronegócio à custa do Tesouro. Mas, porque o incremento do consumo dos ‘insumos modernos’ nos processos produtivos camponeses, permitido pelo crédito e orientado pela ATER, implicou em custos de produção que crescem muito acima dos preços recebidos por esses agricultores.
Para agravar o quadro acima, a tendência de expansão, entre os produtores de base familiar, do padrão agrícola fundado na homogeneidade com monoculturas intensifica os problemas de rentabilidade das atividades desses agricultores, pelas implicações na gestão dos ‘tempos mortos’ da atividade agrícola. Ocorre que, num ambiente de diversidade de cultivos, o ‘tempo morto’ no desenvolvimento de uma cultura é compensado por outra cultura. Assim, são minimizadas as implicações econômicas dos tempos biológicos nos prazos de rotação do capital, o que não ocorre num ambiente de mono cultivos. (Gerson Teixeira é Assessor Parlamentar - Lotado no Gabinete do Deputado Federal Beto Faro)
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