Menos de uma semana depois de ter sido derrotada pelos senadores na recondução de Bernardo Figueiredo para a direção-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a presidente Dilma Rousseff decidiu trocar os articuladores políticos do governo no Congresso. Ela, no entanto, manteve o cargo com o PMDB, sinal de que respeita o gigantismo do partido do vice-presidente Michel Temer. Para o lugar do líder no Senado, Romero Jucá (RR), Dilma convidou o senador amazonense Eduardo Braga (AM).
Ao fazer a troca de líderes, Dilma disse que pretende pôr em prática um rodízio de líderes no Senado e na Câmara dos Deputados. Significa que o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), também será trocado. As mudanças feitas pela presidente visam a tentar debelar a crise existente hoje entre o Congresso e o Palácio do Planalto, uma junção de descontentamento com a falta de liberação de emendas parlamentares ao Orçamento e a demora na nomeação de indicados para cargos em estatais. As eleições municipais também são munição para a crise da base aliada. Partidos da coalizão, especialmente o PMDB, criticam o comportamento do PT nas negociações e a falta de flexibilidade do partido da presidente.
Votações. Um dos exemplos mais usados pela presidente nos últimos dias para relatar os problema na comunicação com o Congresso foi a votação do Fundo de Previdência do Servidor Público (Funpresp) pela Câmara. O PDT deu 22 votos contra a criação do fundo; o PSB, 17; e o PT, 8. As informações que chegaram ao Planalto diziam que as defecções seriam mínimas e o projeto seria aprovado sem problemas. De fato, foi aprovado, mas com alguma dificuldade.
É comum a presidente e seus ministros serem abastecidos com informações que dão segurança quanto ao resultado de uma votação. Mas, conforme o diagnóstico recente do governo, quando o placar eletrônico é aberto, nada bate com o que os líderes disseram. 'Eu pretendo fazer um rodízio de líderes a partir de agora, tanto no Senado quanto na Câmara', disse a presidente ao líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). Ela o convidou para conversar ontem à tarde, quando comunicou que havia convidado Eduardo Braga para o cargo de líder e que este tinha aceitado substituir Jucá. Braga afirmou que terá o maior prazer em contribuir com o governo caso seja indicado para o cargo de líder.
Influência de Lula. O peemedebista, que foi governador do Amazonas por dois mandatos, é muito amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora em tratamento contra um câncer na laringe, o ex-presidente vinha dizendo a Dilma que ela precisava fazer mudanças nos cargos de líderes e melhorar a comunicação com os partidos da base aliada. E defendia Eduardo Braga como o melhor nome. Braga integrava o grupo chamado de G-8, que aglutina oito senadores que contestam a liderança de Renan Calheiros. Alguns, como Jarbas Vasconcelos (PE) e Waldemir Moka (MS), votaram no tucano José Serra em 2010. Braga, pelo contrário, foi fiel ao PT e a Dilma e a ajudou durante a eleição. Mas, por não se dar com Renan, o amazonense vivia numa espécie de limbo. A presidente acha que com ele as articulações políticas ganharão em agilidade.
Jucá estava desgastado com a presidente. Na semana passada, cometeu dois erros que ajudaram a tirá-lo do cargo. Primeiro, informou a presidente de que a indicação de Bernardo Figueiredo para a ANTT seria aprovada. Depois, retirou de pauta um projeto de interesse de Dilma, o que pune empresas que pagarem salários inferiores a mulheres nos mesmos cargos exercidos por homens. Dilma queria sancionar o projeto na última quinta-feira, Dia Internacional da Mulher. (estadao.com.br)
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