O alvoroço causado pelo impacto do livro “A Privataria Tucana” foi acompanhado de perto pela grande imprensa, que pouco se manifestou a respeito. Os tucanos optaram pelo mesmo caminho. Mas estava difícil se manter em silêncio por muito tempo: a obra já está no topo do ranking dos mais vendidos do país, ultrapassando best sellers como a biografia de Steve Jobs e o último livro de Jô Soares. Diante desse quadro, a alta cúpula do tucanato resolveu responder. Não com argumentos sólidos contra as denúncias, mas desqualificando-as utilizando termos como “lixo” e “coleção de calúnias” para definir o trabalho. Mas afinal, o que os tucanos temem? Terão receio de vir por terra uma suposta “aura de moral” que reveste o partido? Ou será do esfacelamento total de uma direita que há anos está em decadência?
Os sucessivos resultados positivos da economia brasileira vêm sendo abafados com supostas denúncias e escândalos. A direita não debate mais ideias para desenvolver a nação, apenas ataca. É uma pena, já que faz bem a todo grande país uma oposição forte e responsável. O medo levou a oposição a uma verdadeira guerra na imprensa tentando desmoralizar o atual governo.
Aliás, medo é uma palavra que a direita conhece muito bem. Foi inclusive colocada no script de Regina Duarte durante as eleições de 2002. Em um dos piores papéis da sua carreira, a atriz dizia durante propaganda eleitoral temer que o país “perdesse toda a estabilidade conquistada”. Ironicamente, a economia brasileira é hoje uma das mais estáveis do mundo, ao contrário da época em que devíamos bilhões em dívida externa.
A resposta do povo não veio apenas das urnas, mas da própria opinião pública. Basta ver os altos índices de aprovação do governo federal por parte da população. Não bastasse isso, a forte reverberação do trabalho do meu xará Amaury Ribeiro nas redes sociais tem causado pânico na direita brasileira. Com mais de 120 mil cópias vendidas, o livro de Amaury investiga as privatizações ocorridas durante o governo Fernando Henrique Cardoso. O autor apresenta documentos que ligam casos de lavagem de dinheiro e propina à Verônica Serra e Alexandre Bourgeois, respectivamente filha e genro do ex-governador de São Paulo, José Serra. A obra é uma das maiores reportagens investigativas do país, contendo 140 páginas com documentos sobre o caso.
Uma frase emblemática após o lançamento do livro foi dada pelo presidente nacional do PSDB, deputado federal Sérgio Guerra (PSDB-PE). “Isso (o livro) foi para diminuir o tamanho da imprensa na formação da opinião pública”, disse à Rádio Folha, de Pernambuco. Uma afirmação boçal e preconceituosa. Ora, por acaso os veículos que divulgaram o livro não são também formadores de opinião, assim como os internautas que difundiram o tema pelas redes sociais e blogs?
O que Sérgio Guerra não deve ter entendido ainda é que o mundo está em processo de transformação. Internautas passaram a ter um papel fundamental na discussão dos grandes temas do país. Os meios de comunicação podem até pautá-los, mas não definir seus posicionamentos.
A repercussão ligou o sinal de alerta no ninho. Na tentativa desesperada de abafar o livro, as parcas resenhas sobre o trabalho parecem terem sido escritas por assessores de José Serra. Em uma delas, publicada em um dos maiores jornais do país, 12 parágrafos falam exclusivamente do Partido dos Trabalhadores e apenas nove citam a obra, sem fazer a devida análise e tratando o trabalho como “panfleto”.
À época do lançamento, fui um dos que ajudou o deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) a recolher assinaturas para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o caso. Não numa tentativa de desmoralizar a oposição, mas para analisar denúncias graves contra o patrimônio público. A importância dessa investigação é tanta que até mesmo deputados tucanos assinaram o requerimento.
A abertura de investigação do caso não implica incriminar ninguém. A própria oposição sabe a importância de serem apurados supostos escândalos. Tanto que já apresentou diversos requerimentos no Congresso Nacional pedindo CPIs com base em notícias de jornais e revistas. Investigar também é papel dos parlamentares e faz parte do processo democrático.
A omissão da direita instigou ainda mais a sociedade a cobrar respostas dos envolvidos. Mais do que uma questão de justiça, é obrigação das autoridades esclarecerem supostos atos ilícitos contra o país. Que o medo do esclarecimento não dure muito, pois o povo não admite mais ser ignorado. Quem se omite, permite. (Amauri Teixeira é deputado federal (PT-BA)
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