A procuradoria italiana de Trani anunciou que vai ouvir já na próxima semana seis ou sete pessoas da agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P). Elas serão chamadas a depor como testemunhas em uma investigação que quer saber se seus integrantes manipularam o mercado. Entre os investigados estão os analistas Eileen Zhang, Frank Gill e Moritz Kraemer. Kraemer também é acusado de vazar a informação sobre a desclassificação do rating italiano em 13 de janeiro.
Este é só mais um capítulo da crise da zona do euro, das contradições do sistema financeiro e dos seus governos. A investigação dá-se exatamente quando se questiona o papel e a credibilidade das agências de classificação de risco e suas relações com os países desenvolvidos.
Não é para menos. Algumas autoridades francesas chegaram a falar na criação de uma agência de risco europeia, para fazer frente às demais. Mas a grande contradição é que as mesmas autoridades que hoje chiam não se manifestaram quando as agências concediam altas notas a papeis tóxicos até o início da crise, em 2008. Ninguém reclamava quando esses papéis tinham uma nota elevada por anos seguidos.
Só agora é que essas nações voltaram a falar em mecanismos de controle maior do sistema financeiro. Uma das ideias é taxar as vendas de ações, bônus e derivativos, mas há oposição intensa à proposta. É pouco. Não passa de mais uma sugestão isolada e sem consenso.
Nesse passo, a zona do euro seguirá instável e à deriva. O continente precisa superar sua crise de lideranças políticas e articular mudanças profundas em seus modelos, recessivos e prejudiciais ao bem-estar das sociedades. A saída passa por uma tarefa que foi aventada em 2009, mas que ficou pelo caminho: a regulamentação do sistema financeiro, para reduzir o espaço dado hoje à especulação. Sem enfrentar esses poderosos interesses, recuperar a economia europeia fica ainda mais difícil. (Blog do Zé Dirceu)
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