Em várias grandes praças do país, embalados por vários fatores, os distintos movimentos constituídos em torno da má qualidade dos serviços e altas tarifas do transporte público voltaram às ruas ontem, em grande número e com alto astral.
Contribuíram como fatores importantes para essa ascensão dos movimentos, a justiça das reivindicações iniciais, a truculência da resposta do poder público e das suas polícias aos atos da semana anterior, a forma descentralizada de mobilização e a mudança de humores da mídia privada, que passou a disputar os rumos do movimento a partir de uma reavaliação de sua postura inicial.
Da parte do PT e do nosso campo político, não há como deixar de registrar a importância da mudança de discurso ao abordar as manifestações, que culminaram com a nota pública de Lula e o pronunciamento de Dilma saudando o direito de manifestação e a justeza das reivindicações. Contribuíram também a iniciativa de Haddad de convocar o Conselho da Cidade a opinar e a abertura de negociações com o Movimento do Passe Livre em São Paulo, bem como a lúcida entrevista de Tarso Genro ao Valor Econômico. Essas manifestações, mais do que um alento para a militância petista incomodada com as primeiras reações oficialistas, foram corretas e adequadas do ponto de vista de uma análise do momento presente desses novos movimentos a ocupar as ruas.
Essa atitude permite que agora passemos ao principal: que resposta dar, como Partido que lidera a coalizão de forças que governam o país, a esses movimentos? Como impedir, como Partido que tem um projeto de transformação social do País, que movimentos como esses canalizem seu vigor para a oposição a este projeto de mudança? Como disputar a hegemonia de um movimento fundamentalmente de jovens, que expressam um ranço anti-partido, anti-governos e anti-política destilados ano após ano pelos meios oficiais da hegemonia neoliberal no país? E como ganhar corações e mentes de uma generosa parcela da juventude que, após anos de inércia, rompe cadeias para voltar às ruas e dispor-se a participar de um movimento coletivo pelo que ela identifica como o melhor para si e para o país?
A direita que se assanha com a possibilidade de levar para as ruas a disputa inglória que há mais de dez anos trava contra nós. Do comandante-geral da PM de São Paulo a eminentes editorialistas, distintas vozes definiram que um movimento vigoroso e sem comando centralizado nas ruas pode ser espaço propício para agitação de propaganda de uma oposição sem causas e projeto.
Assim, estamos diante de um momento em que a juventude está nas ruas, com apoio e participação crescente de outros setores sociais, fenômeno positivo a ser saudado, mas o caráter de suas manifestações está longe de ser definido, fenômeno em disputa a ser disputado. (FONTE: Site do PT)
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