segunda-feira, 25 de junho de 2012

Partido banido por Mubarak comandará o Egito agora. Comandará?

Exatos oito dias depois do 2º turno, neste fim de semana o povo egípcio voltou a festejar. Neste domingo, depois que a Comissão Eleitoral anunciou que o presidente eleito é o candidato da oposição, Mohamed Mursi, a Praça Tharir, símbolo da resistência egípcia à ditadura e marco da derrubada em janeiro de 2011 do ditador Hosni Mubarak, foi palco de mais uma manifestação. Mas, desta vez, de comemoração pela vitória de Mohamed Mursi, candidato do partido braço político da Irmandade Muçulmana, que com 51,7% dos votos (mais de 13 milhões), derrotou Ahmed Shafiq, brigadeiro da reserva e ex-premier de Mubarak. Só pouco mais da metade dos 50 milhões de eleitores egípcios compareceu para votar no 2º turno.

“(Eu) não estaria aqui agora, como primeiro presidente eleito por livre vontade pelos egípcios, sem a graça de Deus e o sangue dos mártires. Obrigado aos mártires, às almas dos mártires, às mães dos mártires, aos pais dos mártires”, disse Mursi ao lembrar os 900 manifestantes assassinados durante a onda de protestos que varreu o Egito no ano passado e culminou na derrubada de Hosni Mubarak. Ainda que não na queda de seu regime.

É, nem tudo são flores no Egito. Mursi acaba de ser eleito em meio a uma “transição política” comandada com mãos de ferro pelo chamado Comando Supremo inteiramente formado pelas Forças Armadas que governa o país há mais de um ano. Na última semana, eles se adiantaram, precaveram-se e deram dois golpes, antes mesmo do novo presidente eleito ter sua vitória anunciada.

Pelo primeiro golpe, os militares dissolveram o Parlamento eleito democraticamente em pleito que havia dado a maioria à Irmandade Muçulmana. Depois, num 2º golpe, retiraram do futuro presidente qualquer poder sobre as Forças Armadas e o Orçamento da União.

É sob estas condições, portanto, que a Irmandade Muçulmana, do alto do seus 84 anos de existência (a maior parte na ilegalidade) e depois de ter sido banida durante a ditadura Mubarak, chega pela primeira vez ao poder. Um desafio e tanto se coloca ao presidente Mursi. O fato é que no Egito, uma democracia tutelada pelos militares - ou uma ditadura militar que tenta se disfarçar - agora ameaçada pela eleição de um líder da oposição, inicia sua transição para uma democracia de fato, ou para um simulacro. (Blog do Zé Dirceu)

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