Um dos desafios postos para as forças de esquerda hoje no mundo é como retomar a busca pela utopia socialista. Tal desafio foi muito bem colocado por Tarso Genro em artigo publicado na Folha de S.Paulo em 9 de abril. Nele, ao alertar que é preciso tratar da democracia socialista, Genro aponta a falta de debate sobre a questão a partir do fato de que os governos socialistas – para exercer o poder – teriam de se aliar a forças conservadoras em nome da utopia democrática.
Outro ponto destacado por Genro é que os governos, no limite, têm de “resolver coisas” e enfrentar bem os desafios do dia a dia da administração pública. Em suma, o debate sobre a utopia socialista teria sido relegado a um plano periférico em nome das questões concretas e, também, do fortalecimento da democracia. Por fim, Genro apresenta uma pergunta essencial: não se deve abrir um debate honesto sobre a democracia e a ideia do socialismo, tomando este não mais como modo de produção “pré-configurado”, mas como ideia reguladora?
A pergunta toca em um dos pressupostos mais caros a muitos socialistas e comunistas: a questão da produção e, por conseguinte, do controle dos meios de produção. E reflete uma tendência já posta em prática por muitos: o fortalecimento do Estado regulador e uma abordagem eclética quanto ao papel do Estado na produção.
Por abordagem eclética entendo o Estado tanto como fomentador, por meio de créditos e subsídios fiscais, como maior comprador, como regulador e como sócio e empreendedor de atividades estratégicas. (Murillo de Aragão é cientista político)
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