terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Davos social?

Houve época em que a reunião do Fórum Econômico Mundial aqui em Davos era um encontro que praticamente definia os caminhos do capitalismo mundial. A crise econômica que domina o mundo desde 2008, no entanto, retirou de Davos essa prerrogativa, resumindo as reuniões seguintes a debates estéreis sobre como sair da crise, sem que surgissem idéias criativas ou soluções viáveis.

Para um encontro que supostamente reúne as melhores cabeças e os líderes do sistema capitalista, não ter captado a crise que se avizinhava foi uma lição de humildade, a começar pelo reconhecimento tardio de que o mercado por si só não é capaz de corrigir seus excessos.

Registrei aqui na coluna que não se via tanto mea-culpa desde que, em outubro passado o ex-presidente do Banco Central americano Alan Greenspan, confrontado por um congressista americano, admitiu, “chocado”, que o modo de vida capitalista não deu certo, e se disse “surpreso” de constatar que o mercado não conseguiu se autorregular, e que as pessoas não conseguiram trabalhar em seu próprio benefício, refreando os excessos do sistema financeiro.

O ano seguinte à quebra do Lehman Brothers foi marcado pelo paradoxo de defender o livre mercado e o sistema capitalista e, ao mesmo tempo, admitir que somente uma vasta intervenção dos governos nacionais poderia tirar o mundo da crise sistêmica em que se encontrava.

O que se viu aqui em Davos nesses anos foi uma imensa catarse, com temas como regulação do mercado financeiro e a necessidade de maior transparência, que já foram considerados tabus, sendo prioritários.

Este ano, o Fórum Econômico está tentando dar um passo à frente de maneira ousada, defendendo a necessidade de repensar o capitalismo que, na definição de Klaus Schwab, o presidente do encontro, está morto da maneira que o conhecemos até hoje.
(Merval Pereira, O Globo)

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